quinta-feira, 16 de abril de 2020

Como é a vida nas cidades do interior?



 Essa é um modelo de pequena cidade do interior do Sul do Brasil. As cidades nesse estilo são mais comuns nas cidades próximas a fronteira com a Argentina e no Paraná nas cidades do Oeste e Norte do PR.
Sobre a Cidade - Portal Municipal de Turismo de Anita Garibaldi
Essa é outro modelo de cidade do sul do Brasil. Esse é o modelo mais europeu de cidade, normalmente comum no centro-sul do Paraná e na maior parte de SC e RS.

Esses dias "O Mago Economista" escreveu um artigo excelente sobre os maus hábitos do comércio, resolvi deixar minha opinião sobre como funciona no interior e vi o pessoal bastante interessado no tema da vida do interior e então resolvi fazer esse post.

Quero comentar sobre alguns pontos da vida nas pequenas cidades do interior (com menos de 15 mil habitantes), mostrar as dificuldades que morar em pequenas cidades traz para o cotidiano, e isso na realidade que conheço que é das pequenas cidades do Sul do Brasil, justo o Sul do Brasil uma região idealizada por tantos na blogosfera.  

Vamos aos tópicos:
Custo de vida básico (água, energia, TV, internet e moradia): O custo com energia e água não é muito diferente de uma grande cidade, a maioria dos estados tem companhias estaduais desses serviços e isso acaba não mudando muito, porém se você é daqueles que compra galão de água para beber em casa saiba que só gente muito rica faz isso nas cidades pequenas, a água da torneira é muito boa. Já internet é um pouco diferente, normalmente existem companhias locais ou regionais que prestam serviço diretamente para o consumidor, ou seja, é mais comum você ser cliente de um pequeno provedor de internet do que de uma grande operadora. Na maioria das vezes elas apenas oferecem pacotes de internet, ou seja, você não compra junto um acesso a telefone fixo + TV a cabo, nesses casos você acaba precisando contratar outras empresas. O preço da internet varia, normalmente você encontra pacotes 'via rádio' e 'fibra ótica', a questão da fibra ótica é que ela nem sempre está disponível, é uma tecnologia nova no interior que tem crescido nos últimos três anos, algumas cidades ainda tem limitação de cobertura mesmo na área urbana. Morar no interior é relativamente barato, normalmente você encontra apenas casas para alugar, esse negócio de apartamento naturalmente não existe no interior, e também não espere encontrar muitas kitnets, essas são bem raras e apenas em algumas cidades você encontra opção. Na maioria das cidades você encontra uma "casa comum" por R$ 500 a R$ 700 o aluguel. Se você procura por casas ainda mais simples vai encontrar opções dignas por R$ 300 a R$ 500, mas se você está procurando por casas de alto padrão, é bom saber que dificilmente você encontra elas para alugar (existem poucas e elas são casas próprias) e se encontra elas costumam girar na faixa de R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00.
Na hora de abastecer o carro no interior você encontra poucas opções, a maioria das pequenas cidades tem dois ou três postos de combustíveis, normalmente um desses postos é de bandeira (a bandeira Ipiranga é a mais comum). O preço é difícil comparar, ele costuma oscilar bastante de uma cidade pequena para outra, porém costuma ser em média 10% mais caro do que nas cidades que são polos regionais (cidades com mais de 80k).

Serviços de saúde: Você gosta de ter acesso a um hospital? E plano de saúde? As pequenas cidades do interior dificilmente tem um hospital seja ele público ou privado, quando você precisa de atendimento médico de emergência existe os serviços municipais de ambulância e pronto socorro que vão te encaminhar para uma 'cidade polo' que em média fica a 1 hora de carro. Nas pequenas cidades você tem acesso aos postos de saúde, existe fila, e você costuma levar até 4 horas para ser atendido, quando é final de semana normalmente tem um pronto socorro e você pode ir lá se estiver se sentindo mal, porém se o médio decidir que você precisa ser internado esteja ciente que será transferido de ambulância para uma cidade maior.
Os planos de saúde normalmente não tem convênio com os poucos médicos das cidadezinhas, na verdade nem todas as cidades tem algum consultório médico privado. Se você tem um plano (e várias pessoas tem planos de saúde no interior) a principal vantagem é ser atendido em consultórios de médicos especialistas nas cidades polos. Se você não tem plano e precisar se consultar com um especialista vai ser encaminhado para a fila do SUS e quando surgir uma vaga terá de ir para a cidade polo e fazer a consulta.
Ah se você precisa comprar remédios saiba que não vai encontrar nenhuma grande rede de farmácias, simplesmente não existe! Você tem acesso a pequenas farmácias locais, o preço dos medicamentos é mais caro, o pequeno estabelecimento tem giro baixo então é difícil conseguir descontos com os distribuidores de medicamentos. Em uma cidade dessas existe em média de 3 a 5 farmárcias.

Emprego e salários: As pequenas cidades costumam depender principalmente de agricultura e pecuária, a maioria da força de trabalhadores está empregada em atividades rurais, uma parcela é empregada nos pequenos comércios da cidade, outros trabalham nos serviços públicos da prefeitura. 
O ramo industrial é presente em várias cidades (mas não em todas) e é dominado por cooperativas agrícolas e empresas que produzem alimentos, várias cidades tem pelo menos uma grande cooperativa agroindustrial, empresas que cuidam do abate de gado ou frangos e usinas de açúcar e álcool, porém é raro que uma cidade tenha mais do que uma dessas empresas. A maioria dessas empresas costumam empregar entre 100 a 400 funcionários (isso em cidades de até 15k).
Se você está procurando por outro tipo de indústria é bem mais difícil de encontrar, claro, existem pequenas industrias (com 5 a 15 funcionários) mas são empresas muito pequenas. 
Os salários costumam ser baixos nas pequenas cidades, a maioria das pessoas acaba encontrando remuneração entre 1,2k-2,0k por mês. Se você ganha mais do que isso em uma pequena cidade já está bem acima da média. O serviço público também paga salários nessa faixa, se você for professor, contador ou advogado em uma pequena cidade o seu salário é um pouco mais alto (na faixa dos 3k-4k), caso queira conferir basta entrar no Portal da Transparência de qualquer cidadezinha ou ver anúncios de vagas em empresas que vai comprovar o que digo. 

Lazer: Se você tá acostumado com baladas, bares, restaurantes, show's, teatro e cinema então é bom esquecer a vida no interiorzão. As pequenas cidades não tem opção de entretenimento na maior parte do ano, o que você tem pra fazer nos finais de semana é ir na casa de um amigo e fazer um churrasco com ele (isso é muito comum), também pode ir para algum clube tradicional (normalmente de funcionários públicos ou de alguma comunidade tradicional, principalmente gaúchos, italianos e alemães).
Se você curte um barzinho com os amigos no happy, o padrão de bar do interior é esse aqui:
02/05/11 – Bar do Salomao | augusto no buteco
O padrão de bar no interiorzão do Brasil

Esse é o perfil mais comum de bar, é o tradicional 'buteco', são estabelecimentos simples, com essas mesas e cadeiras de plásticos patrocinadas por marcas de cerveja, você costuma encontrar cervejas básicas (Skol, Brahma, Itaipava e Glacial) em alguns deles vai encontrar Heineken e Stella (mas na maioria das vezes não), pinga e pra comer eles costumam ter pastel frito e espetinhos de carne, e assim como as cervejas é apenas em alguns que você vai encontrar porções. É difícil encontrar algum tipo de música ao vivo, a maioria tem apenas um sistema de som comum tocando alguma rádio local ou músicas de pen-drive e uma TV de 32'' ou 43'' que costuma ficar sintonizada na Globo em dias de jogos de futebol (a maioria das pessoas usam parabólica, ou seja, o sinal dos bares costuma ser da GLOBO RJ). Se quiser um pub ou algum daqueles bares temáticos com cervejas artesanais pode esquecer, até que vez ou outra alguém resolve montar um bar nesse perfil, mas costuma fechar em pouco tempo. Os bares temáticos ou chiques são mais fáceis de encontrar nas cidades polos.
Quase toda cidade tem pelo menos uma grande festa por ano, essas festas dependem muito da região, mas costumam estar ligadas as tradições imigrantes, ligadas a agricultura ou algum santo padroeiro local, também é comum a realização de rodeios de touros e cavalos. A maioria das festas acontecem na data do santo padroeiro ou do aniversário da cidade, costumam durar 3 ou 4 dias, e a cidade inteira vai nelas! Existe uma pressão social pela sua presença. Os jovens das cidades pequenas vizinhas como estão na idade de querer curtir costumam ir sempre nas cidades próximas curtir essas festas, assim tem um pouco mais de opção por ano. Normalmente é apenas 1 ou 2 eventos no ano.
Nas pequenas cidades não existem teatros ou cinemas. Se quiser ver o último lançamento do cinema é bom ir pra alguma cidade polo.
Pracinha do Interior - Avaliações de viajantes - Praça Siqueira ...
Uma praça típica de interior.

Aquele fetiche das pessoas reunidas em praça de igreja é um dos maiores mitos sobre o interior. É verdade que quase toda cidade tem uma praça central (na maioria das vez é a única praça) e muitas tem uma igreja católica nessa praça. A praça é o centro da cidade, é envolta dela que costumamos encontrar os principais comércios, bancos, igreja, prefeitura e uma ou outra casa da 'elite local'.
Durante o horário comercial é pouco comum alguém parar ali pra sentar ou fazer qualquer coisa, salve alguns idosos que param lá pra conversar, já que a praça é cercada por serviços essenciais é fácil encontrar alguém nos arredores. No final de semana ás praças ficam vazias, às pessoas costumam ir uma na casa da outra, e os jovens quando não estão na casa de outros jovens vão curtir o FDS nas cidades polos.

Comércio em geral (lojas, bancos, mercados e prestadores de serviços): Nas cidades pequenas não existe shopping center e você também não vai encontrar nenhuma loja de grande rede de vestuário ou móveis. A maioria tem várias pequenas lojas de roupas em geral, uma ou outra loja de eletrodomésticos e móveis também de empresários locais, loja de material para construção, loja de produtos agrícolas (normalmente são as veterinárias), alguns consultórios odontológicos. 
Nas pequenas cidades você tem poucos bancos, a maioria tem dois bancos, normalmente um é uma agência de um grande banco de varejo (BB, Bradesco ou Itaú) e o outro costuma ser alguma cooperativa de crédito. Você não encontra Banco24h a menos do que horas de estrada. É necessário ter conta nesses bancos pois muita gente trabalha com cheque no interior e você precisa depositar ou trocar cheques nos bancos, nem todo comerciante aceita maquininha de cartão de crédito e muitos serviços você só consegue pagar em dinheiro. Esse negócio de fintech não é nada prático no interior.
As grandes redes de supermercados se quer existem, o que você encontra são os mercadinhos locais, eles tem uma boa variedade de produtos e uma cidade com 15k costuma ter quatro ou cinco mercados, porém nada de hipermercados e o preço das mercadorias naturalmente é mais caro, o comerciante tem dificuldade de negociar desconto com os distribuidores. Se você acha que precisa comprar em algum hipermercado ou atacadão é bom aceitar pegar estrada e ir pra outra cidade maior.

Vida cotidiana: "Todo mundo sabe da vida de todo mundo" é a frase que resume a vida nas cidadezinhas, se você chegar de fora pra morar na pequena cidade todo mundo vai perceber que você não é dali, pois todo mundo se conhece. Se você acha que por ser de São Paulo, Porto Alegre, Curitiba e etc quando chegar no interior o pessoal vai achar você diferente, ás mulheres vão se jogar aos pés do forasteiros é bom esquecer a cidade pequena, ninguém liga se você veio da cidade grande.
Toda pequena cidade tem a sua elite local, normalmente são famílias tradicionais e ricas, costumam ser donos de terra, pontos comerciais, supermercados ou então são médicos. Nas eleições ninguém liga para o partido político do candidato, às candidaturas envolvem mais a pessoa do candidato do que as propostas que costumam ser todas as mesmas e sem ideologia política. 
Se você é de fora e chega na cidade, não vá achando que vai ser tão fácil se enturmar com o pessoal, a maioria das pessoas já tem suas panelinhas e elas são fechadas. Se está chegando no interior e tem parente na cidade é mais fácil se enturmar, se tiver parentes na cidades e eles forem da 'elite local' você vai se enturmar mais fácil ainda.
A elite local no interior costuma passar de geração para geração, ou seja, existem sobrenomes proeminentes nas cidades, é como se fosse uma pequena nobreza. As dificuldades econômicas que a maioria das pessoas tem, os baixos salários, a dificuldade de empreender, o baixo acesso a educação e a própria demografia ajudam a dificultar muito a mobilidade social.
É bom ter consciência de que se você sair no soco com alguém a cidade inteira vai falar, se você estiver saindo com fulana ou ciclana, todo mundo vai saber, pois as pessoas estão cuidando da vida de todo mundo e é parte da cidade.

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Espero que depois desse post você tenha uma noção melhor sobre como o interior funciona, aqui não é o paraíso, quem está acostumado com a vida na cidade grande não vai se adaptar fácil, é uma vida de mais limitações e com pouco idealismo.

Se você está na jornada FIRE e quer viver ela no Sul do Brasil nas pequenas cidades eu recomendaria repensar isso, tente procurar pelas cidades polos regionais (com mais de 100k) elas costumam ter uma qualidade de vida melhor. Se você quer vir pras pequenas cidades na esperança de viver uma vida como Alfa é bom esquecer isso.

Se alguém tiver ficado com alguma dúvida sobre a vida no interior pode deixar nos comentários que eu respondo.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Fechamento Março/2020: R$ 151.863,78 (-1,61%)


Nem a pau que eu esperava isso de Março, já dizia Tom Jobim que "são as águas de março fechando o verão, é a promessa da vida no teu coração", e foi isso mesmo em Março de 2020, o bull market terminou e o verão ensolarado da bolsa brasileira foi embora, agora começa a chuva e descobrimos quem construiu seu abrigo e comprou guarda-chuva e quem achou que o verão era eterno.
Eu senti a minha carteira cair nesse mês, foi muito mais do que eu esperava, exatos -1,61% de queda no fechamento do mês, na verdade até é de se comemorar pois no pior momento eu estava me aproximando dos 4% de queda, foi naqueles dias onde até os pré-fixados do tesouro começaram a sofrer uma forte desvalorização.
A única boa notícia do mês é que consegui fazer um aporte bem mais gordo, foram R$ 3.837,00 aportados, com isso eu cheguei mais ou menos na metade do que eu pretendia aportar em 2020. Esse aporte alto não deve se repetir em Abril, se meus planos derem certos será um mês de muito mais gastos, todos na área de saúde, já projeto um mês sem aportes.
Veja um painel da minha carteira e sua evolução:
A rentabilidade do ano de -1,61% não estava nem no meu pior cenário para o trimestre, nas minhas projeções no pior dos mundos eu teria rentabilidade nula, porém o pior dos mundos sempre pode ser pior.
Resolvi nesse mês divulgar minha carteira de ações e FII's para vocês, além delas tenho também o IVVB11 na renda variável. Vou deixar apenas para ilustrar a participação de cada ativo na renda variável. 
Como podemos ver com exceção de TIET11 todas às minhas ações tem rentabilidade histórica negativa, e essa crise tem me ensinado algumas lições: eu não tenho um perfil agressivo em ações e por isso tenho que apostar em empresas mais sólidas, que talvez não tenham um potencial tão grande de valorização, mas que são mais resilientes quando começa alguma crise, ao mesmo tempo tenho que ficar de olho para não comprar topo de nenhuma ação. Eu digo isso pois assisti duas ações da carteira me ensinarem essa lição, a primeira VVAR3 que comprei uma pequena posição e que é o pior resultado histórico com -61%, é uma empresa que apostei na alta e melhora dos resultados, mas não me atentei que sua fragilidade é grande demais e que minha estratégia só daria certo em um cenário otimista para 2020. O outro arrependimento é BBDC4, é uma ação excelente, porém comprei em um topo histórico e acumulo -45% de queda, não pretendo comprar novamente no curto prazo, mas vou segurar a posição.
A escolha de TIET11 e depois de TAEE11 foi acertada, ambas do setor elétrico e são resilientes (em especial a última), não é por acaso que são minhas melhores performances históricas.

Nos FIIs eu não tenho muito o que comentar, compro sempre pensando nos dividendos, porém tenho um pouco de pé atrás, acredito que vão cair quando aprovar a tributação de dividendos e tenho dúvidas sobre se voltarão a reagir no médio prazo.

APORTE DO MÊS: Aportei em ITSA4 (adoro essa ação, só não compro mais pois fico um pé atrás de me expor ao setor financeiro enquanto não fica muito claro até onde fintechs podem impactar os resultados), TAEE11 (precisava de uma transmissora), MXRF11 (o famosinho entre os FII's, comprei pelo bom DY) e RBFF11 (talvez não aportaria se fosse hoje).

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VIDA PESSOAL: Tentei ser o mais frugal possível no mês, e com isso praticamente não sai de casa, o que contribuiu para o aporte. O meu maior temor é o trabalho, essa crise de COVID19 com certeza vai gerar demissões, estou preocupado com essa possibilidade e não quero ser demitido, é um momento horrível pra isso acontecer. Peço a Deus, que proteja todos os brasileiros do desemprego.

IMPORTANTE: Esse é um blog de cunho pessoal, nada do que escrevo aqui deve ser levado como recomendação de investimento, estou apenas compartilhando minhas experiências e não recomendo a ninguém que tome decisões baseadas em algo que eu escrevo. Caso você deseja orientação sobre investimentos procure especialistas no assunto.