Quem assistiu a entrevista de Paulo Guedes na CNN Brasil a pouco mais de uma semana atrás deveria ter ficado preocupado, mas parece que o mercado não viu ou está fingindo que a entrevista não aconteceu.
A entrevista mostrou que estamos dançando encima de um barril de pólvora, o ministro deixou claro que o governo não tem plano nenhum para a economia daqui até o final do mandato atual. A fala de Paulo Guedes se resumiu em desenhar um país que não existe, no mundo de Paulo Guedes ele vai conseguir privatizar "quatro grandes estatais" até o final de setembro, o país vai se surpreender com uma queda muito menor do PIB em 2020 e a coroação é o envio de uma proposta de reforma tributária (que é uma promessa desde o fim da reforma da previdência e que não saiu do lugar justamente pela incapacidade do governo de apresentar um projeto ao legislativo) que vai taxar dividendos e criar mecanismo de "substituição tributária" escorados em uma nova CMPF que segundo o ministro não é uma CPFM, ainda que cheire como uma CPFM, pareça uma CPMF, funcione como uma CPFM, mas não é uma CPFM pois ele está dizendo que não é e isso deveria bastar.
Na prática quem tem o mínimo de senso da realidade nesse país deve ter em mente que:
- A cada semana que passa o Congresso vai se esvaziar cada vez mais diante da proximidade das eleições, o que aumenta a dificuldade de fazer quórum e diminuiu o apetite de deputados em aprovar privatizações polêmicas de grandes estatais.
- O governo está entupindo o Congresso de Medidas Provisórias que trancam a pauta o tempo todo, o que prejudica o próprio governo que tem que gastar cartuchos negociando nos acréscimos do segundo tempo para salvar algumas MPs.
- É ZERO a chance de sair uma Reforma Tributária nos próximos meses tendo em vista que a proposta se quer foi enviada para o Congresso e é um tema polêmico e que por natureza já se arrastaria por vários meses e com o agravante do período eleitoral que vai ocupar todo o segundo semestre do Congresso.
- Se a Reforma Tributária for aprovada no começo da próximo ano, devemos lembrar do princípio da anterioridade que veda a cobrança de impostos no mesmo ano fiscal em que foram aprovados.
- Sem receitas extras em 2021 o governo vai bater no Teto de Gastos e corremos o risco de lidar com ou o colapso financeiro do governo ou a derrubada do Teto de Gastos e por consequência o endividamento de um país emergente ultrapassando os 100% do PIB, o que certamente vai impactar no dólar, na inflação e na economia em geral.
Menos de uma semana depois da fala do Ministro e sem nenhuma ação do governo no sentido de cumprir as promessas de Guedes a bolsa fechou em 100k novamente. Diante desse cenário eu decidi que vou dedicar mais atenção nos próximos meses aos aportes em IVVB11 enquanto estudo mais a fundo a possibilidade de abrir conta em uma corretora nos EUA.
Não estou dizendo que vou deixar de investir em ações e FII's brasileiros, pois meu horizonte de investimento é para daqui a décadas, mas é preciso reconhecer que nos próximos três anos o cenário é muito complicado para o Brasil e requer cuidado na hora de aportar aqui nos trópicos.
Gostaria de ser convencido de que estou errado e que tudo vai dar certo na economia, mas não vejo nada no horizonte que favoreça essa visão.
-
IMPORTANTE: Esse é um blog de cunho pessoal, nada do que escrevo aqui deve ser levado como recomendação de investimento, estou apenas compartilhando minhas experiências e não recomendo a ninguém que tome decisões baseadas em algo que eu escrevo. Caso você deseje orientação sobre investimentos procure especialistas no assunto.