quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

O diploma de faculdade no Brasil

            O colega O Mago Economista, levantou a bola para um excelente tópico alguns dias atrás, a educação superior no Brasil e quero aqui deixar registrado que também enxergo esse problema.

 Sou nascido na geração dos millenials, cresci acreditando que a faculdade era um divisor de águas na vida de uma pessoa. O meu sonho sempre foi fazer uma graduação, pois ela me daria uma profissão boa, um bom emprego, um bom salário de classe média e uma vida próspera e tranquila.

        A minha infância e adolescência foi vivida nos tempos áureos do governo Lula e o começo do governo Dilma, você meu amigo, pode discordar sobre o método usado para sustentar aquele boom econômico, mas nunca poderá discordar que havia um sentimento generalizado de que vivíamos a era do “país do futuro”.

Tratando-se de Brasil às coisas não eram o mar-de-rosas que pareciam, o boom econômico foi acompanhado de um boom de faculdades pelo país. Com a economia decolando era necessário cada vez mais “mão-de-obra qualificada”, o problema é que a explosão de vagas no ensino superior só conseguiria refletir em qualidade e prosperidade de vida para os formandos se a economia conseguisse se manter com um crescimento chinês, o que não aconteceu.

O Brasil mergulhou nos seus próprios problemas a partir de meados de 2013, naquele ano às Jornadas de Junho, mostraram que apesar do otimismo, esse ainda era o país do corporativismo. A economia murchou rapidamente, o governo tentava artificialmente sustentar o boom com estímulos, mas já não era como antes.

Enquanto isso às graduações continuavam a entregar safras cada vez maiores de alunos, todo governante gosta de bater no peito que está investindo em educação e o diploma universitário sempre foi respeito pelos brasileiros. O problema é que o mercado foi inundado de profissionais até o ponto de saturação.

O que sobra hoje? Milhões de brasileiros com diploma superior que não conseguem trabalhar na área, quando conseguem são para eternos programas de estágio ou fazendo simples bicos, que se colocados na ponta do lápis não valem o custo financeiro e de tempo que tiveram.

Hoje se você excluir Medicina, quase todos os cursos não oferecem boas perspectivas de emprego para os recém-formados. É óbvio que um estudante formado em meia dúzia de universidades brasileiras e em meia dúzia de cursos ainda tem boas possibilidades, entretanto a cada dia até mesmo eles já veem um cenário mais complicado.

É só ver a quantidade de motorista de app com ensino superior, aqui não quero criticar quem é motorista de aplicativo, é uma profissão digna como todas as outras, mas se você parar para perguntar o que levou o cara a optar por esse caminho, muitos vão dizer que foi a falta oportunidades na sua área de formação. E ainda precisamos dar graças a Deus, pois muitos e muitos brasileiros com diploma estão desempregados e sem perspectiva alguma.

Enquanto isso o governo segue estimulando o sonho do diploma, e cada vez mais explodem as vagas, em especial aquelas do EAD. Ninguém está preocupado com esse desperdício de capital humano, na verdade todo mundo fecha os olhos para o problema e segue o jogo.

Não estou defendendo o fim do acesso a graduação para criar uma elitização da sociedade e negar o direito das pessoas de ter acesso ao ensino, mas acho que já passou do momento de alguém em Brasília parar e pensar sobre o que está sendo feito, e quantos jovens brasileiros estão desperdiçando seu tempo na esperança de um futuro de sucesso, quando saem da faculdade direto para o abismo do desemprego.

O mais curioso é que o jovem ainda tem que tirar o diploma de faculdade, pois é, mesmo que ele hoje não valha nada, a superoferta garante que qualquer vaga de emprego exija um diploma, mesmo que não faça diferença prática nenhuma para exercer a função. E lá se vão os jovens, na eterna corrida pelo diploma, que ao mesmo tempo em que não vale nada, acaba valendo tudo.

É vergonhoso que ninguém em Brasília pareça se importar com a geração de brasileiros que está sendo desperdiçada e isso tudo na última fase da nossa janela demográfica, tudo por incompetência e corporativismo! 

16 comentários:

  1. Ótima reflexão, PI.

    Eu concordo com muito do que você e o Mago disseram, mas continuo tendo a impressão de que grande parte do problema é a QUALIDADE dos formandos, e não a apenas a quantidade. Eu me formei já com mais de 30 anos de idade, mas me formei solidamente, tanto é que quando participei dos processos seletivos de estágio eu pude escolher onde iria estagiar, tendo sido contratado antes do estágio terminar e hoje, pelo meu curtíssimo tempo de carreira, já estou em uma posição interessante. Falei do meu exemplo, porém a GRANDE MAIORIA dos colegas que fizeram faculdade comigo está muito bem empregada. São realmente poucas que estão sentindo dificuldade em encontrar colocação. Então o que eu concluo disso é que no mercado, de fato, não há espaço para os mal formados, mas para a galera que é boa, que foi bem formada, dificilmente não se encontra colocação.

    Mas com certeza a criação dessas centenas de Uniesquinas invariavelmente vai contribuir para a introdução de gente muito mal formada, e esses por sua vez, como acreditam que o diploma pelo diploma é suficiente, acabam caindo nessa estatítica que você citou.

    Na minha opinião as Uniesquinas tinham que ser aniquiladas, sendo permitido apenas que as instituições de excelência permanecessem em funcionamento. Formaríamos muito menos pessoas, mas seriam pessoas bem formadas, e essas exigências ridículas de "curso superior" pra atendende de balcão naturalmente iriam sumir.

    Abraço!
    https://engenheirotardio.blogspot.com/

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    1. Engenheiro Tardio,

      Eu concordo com você em seus comentários e é preciso levar em conta a qualidade dos formandos, porém mesmo que todos os formandos tivessem o mesmo nível de qualidade, a razão entre "Oferta vs. Demanda" é o que vejo como problema, a maioria dos cursos estão entregando safras enormes todo ano e nossa economia não dá conta de suprir, essa década perdida da economia deixou um excedente no mercado o que destruiu o valor de um curso superior.

      O que o governo deveria era subir o sarrafo da qualidade das instituições, combater Uniesquinas e exigir das privadas e das públicas um nível maior de qualidade dos serviços prestados e dos formandos, precisamos formar com mais qualidade.

      Abraços,
      Pi.

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  2. Parabéns! PI pelo texto e engenheiro tardio pelo comentário, ambos se complementam e oferecem uma excelente reflexão.

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  3. cara concordo com vc

    o que ninguem abordou até agora são as pessoas que fazem uma faculdade por razões não necessariamente ligadas ao mercado de trabalho ou que ao final dela simplesmente preferem ser donas de casa ou exercer outra profissão, mais ou menos rentável (ou simplesmente complementar renda)


    não sei na área de exatas, mas na área de humanas muita gente ainda procura o nível superior como uma forma de ampliar o conhecimento, visão de mundo etc

    dessa forma restringir o acesso a algumas instituições impediria que muitas pessoas utilizassem o nível superior para seus projetos de vida, que podem ou não ter uma finalidade economica

    o conceito de educação é mais amplo que o de profissão

    abs!

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    1. Existem essas pessoas, mas acho que a maioria absoluta ainda busca para conseguir um emprego bom e uma vida melhor, é um místico da graduação no Brasil, fruto de décadas e décadas de problemas no desenvolvimento do sistema educacional brasileiro.

      Sobre restrições de acesso eu particularmente sou contrário, entretanto precisamos estabelecer critérios mais exigentes para a abertura de cursos e sua manutenção, precisamos formar com mais qualidade.

      Abraços,
      Pi

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  4. Obrigado pela referência, PI!
    Uber, cabify, ifood, etc. estão salvando a pele de muita gente. Sem esses bicos a situação estaria muito pior.
    Coisas que o governo podeia fazer: diminuir a burocracia para abrir uma empresa, diminuir barreiras regulatórias, diminuir impostos, flexibilizar as leis trabalhistas principalmente nas pequenas empresas, e por aí vai. Isso ajudaria a criar mais empregos. E também facilitaria às pessoas criarem seus próprios empregos.
    Abraço

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    1. Mago também sou a favor de uma facilitação dos negócios, um dos poucos tópicos que sou mais cauteloso é com a flexibilização das leis trabalhistas, infelizmente todas às medidas feitas nos últimos nesse sentido só deterioraram a qualidade do emprego em troca de nenhuma queda do desemprego.

      Abraços,
      Pi

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    2. Concordo que é necessário ter cautela na flexibilização das leis trabalhistas, mas, em relação a este assunto, tenho sentimentos ambíguos: consigo entender o lado do empresário (que paga caro por cada funcionario) e o lado do empregado também (claro que é bom e justo ter direitos como férias, licença maternidade, etc.). Mas eu acho que as leis trabalhistas, da forma como são hoje, dificultam muito principalmente para os pequenos empresários. Veja só: eu pretendo um dia abrir meu pequeno negócio, e não tenho intenção nenhuma de contratar ninguém, porque pela CLT eu teria que praticamente adotar meus empregados, coisa para a qual não tenho condições financeiras. Praticamente só empresa grande consegue pagar tudo direitinho e ainda ter lucro. Acho esta estrutura um tanto perversa, porque é muito fácil para um pequeno empresário "perder tudo" em um processo trabalhista, e sei que tem muito malandrinho por aí que vive de parasitar o empregador. Deve haver outros que pensam igual a mim e não pretendem contratar ninguém em seus pequenos negócios, por não terem condições de arcarem com todos os custos da CLT e ainda ter lucro. Isso faz com que muitas potenciais vagas de emprego nem cheguem a existir, para começo de conversa. Isso é ruim especialmente para os mais pobres, que poderiam estar nestes empregos (que não teriam preconceito com o local onde a pessoa mora, com a Universidade onde a pessoa se formou, e etc. Ao contrário das grandes empresas, que costumam ter esses tipos de preconceitos contra pobres), nem que fosse só para aprender a prática.

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  5. Eu sou da época que um bom curso técnico era suficiente, onde eu moro (Grande ABC-SP), tinha vasta área para técnico, com meu curso técnico entre em um banco na área de ti, onde atuei por 10 anos, lógico que enquanto estava lá fiz a minha graduação... hoje em dia exige-se um diploma para começar a querer ganhar razoável, mas o diploma não é suficiente, precisa fazer inúmeros cursos, capacitações, ou seja, somente a faculdade não vale de nada, mas quem não tem um diploma está perdido !

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    1. Stifler, essa época era na quando existia um sistema funcional entre 'oferta vs demanda'.

      Houve tanta oferta de graduação e a maioria de péssima qualidade que o diploma virou algo tão comum e tão banal que não tem mais valor, sobra ao brasileiro gastar somas extras de dinheiro com pós-graduação, mestrados e outros cursos estúpidos só para tentar se diferenciar em um milímetro do outro.

      Abraços,
      Pi

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  6. Fala PI ! As faculs são o novo ensino mérdio, infelizmente. Com o tanto de uniesquinas que surgiram, socou no mercado muita gente que não devia fazer faculdade, essa "democratização" acabou por abaixar os salários e por termos que atualizarmos constantemente para não sermos passados pra trás e morrer de fome. Arrisco-me a dizer que as faculs são produtores de ruminantes para manter a engrenagem do sistema rodando, de que vale ter todo o conhecimento ao longo dos séculos? Temos tudo isso nas mãos, mas ao mesmo tempo não vale de nada. Um abraço!

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    1. Acho que exigir qualificação profissional nunca é demais e é necessário sempre se atualizar, o problema é que a forma como foi conduzida a "democratização" do ensino superior foi focada em quantidade de formandos e não na qualidade.

      Abraços,
      Pi.

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  7. A mentalidade populista cheia de boas intenções cria absurdas distorções e mercado, alocando recursos pessoais e materiais onde não existe demanda, vide o crédito subsidiado que empanturrou o mercado de caminhões, mesmo crédito que fez a JBS destruir pequenos frigoríficos acabando com concorrência enfim toda esse distorção no mercado incentivou pessoas a irem atrás de uma promessa de futuro sendo que é impossível prever a direção do crescimento economia qual setor demandará mais profissionais no futuro, só ver a oferta de vagas nas Universidades publicas totalmente desconexa com a demanda do mercado ainda tem curso de Biblioteconomia kkk surreal musica entre outros cursos sugadores de recursos públicos... No fim o problema é um só O ESTADO.

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    1. Soldado,

      Aquela política dos "campeões nacionais" foi nefasta para o país, em troca de fortalecermos uma ou duas empresas acabamos destruindo a concorrência do setor e deixando um rastro imenso de desemprego quando a Lava Jato estourou em 2014-15.

      Eu não acredito que o problema seja o Estado, eu acredito que ele é necessário entretanto é nítido que temos um Estado muito mal administrado, e que essa péssima qualidade é fruto de nossas escolha como sociedade brasileira, não é uma questão se é o PT ou o Bolsonarismo no poder, o episódio atual com a Petrobras só mostra que é tudo quase igual, só muda a cor da roupa dos puxa-sacos.

      Abraços,
      Pi.

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  8. minha falecida avo, que se foi nos seus 82 anos, ficava impressionada em saber que a moca que trabalhava na casa dela tinha a mesma formacao academica da minha avo.

    ambas com o nivel medio! o detalhe e que a moca nao conseguia formular uma frase completa ...

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    1. Rodrigo,

      Eu concordo com você, infelizmente tem muita gente, muita gente mesmo! Que não sabe formular frases ou interpretar textos simples, é o tal do analfabetismo funcional.

      Abraços,
      Pi

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